quinta-feira, 31 de março de 2011

Palavras Não Ditas... (Sussurro 6)

Palavras não ditas, mesmo as de afeto e de bom propósito, quando acumuladas, fermentam na alma. E o Vinho se transforma em Vinagre. Eis o Milagre da Degeneração.

Palavras não ditas, mesmo as que são oriundas diretamente do Dicionário das Víboras, deixam incólume a força motriz que nos faz querer proferi-las. E a Face se transforma em Máscara. Eis o Milagre da Hipocrisia.

domingo, 27 de março de 2011

Ler e Aprender...

Começo este post com a seguinte postulação (há-há... =/), obviamente não-confirmada, porém oriunda de um Insight Aparentemente Muito Profundo: Pode parecer irreal — principalmente se repararmos na magnitude colossal que nossos feitos de caráter muitas vezes duvidoso possuem —, mas a prática da leitura por nós humanos, inclusive aquela que é realizada por muitos daqueles que se consideram até que de certa forma "letrados" é uma das ações mais mal-executadas pelas espécimes atuais de Homo sapiens.

Mas relaxe, meu caro leitor de natureza e existência indeterminada. Estamos muito, muito longe da perfeição. Devemos nos cobrar um pouco de esforço que resulte em evolução, mas não devemos nos matar por causa disso... Pelo menos não na maioria dos casos... Enfim, o fato é que quase tudo o que fazemos de alguma forma chapinha merda pra algum canto do universo. E isso ocorre mesmo quando não nos damos conta disso. Pra falar a verdade, acho que a merda costuma se espalhar com um vigor e um alarde digno de sirene de polícia em boca de fumo, principalmente quando não nos damos conta desse "fato" (somos imperfeitos) e/ou quando achamos que tudo está "sob controle" ainda que haja lá no fundo mais profundo do nosso âmago um sentimento dizendo que alguma(s) coisa(s) está(ão) MEIO desequilibrada(s) nesse nosso interior perturbado... Enfim e por fim quero deixar claro que este post, assim como quase todos os meus posts anteriores e os prováveis subsequentes, não é uma crítica somente a minha realidade exterior. Ele é uma crítica também, e talvez principalmente, ao meu interior. Porque sim, todos fazemos parte dessa exuberante, inacabada e incompleta estirpe que viraliza toda a face da Terra e que ousou até plantar e içar bandeiras em localidades de outras partes do espaço sideral — ainda que, provavelmente, essa ação não venha a ter significado subjacente válido pra nenhuma outra espécie.

Acho que já tô quase fugindo do assunto. Um tema fica se ligando a outro. Sabem como é... Acho que sou meio hiperativo. Bem! Vamos ao que interessa: ao assunto que faz referência ao título do post.

Ler é uma coisa que aparentemente é extremamente simples, principalmente para as pessoas que já passaram pelo maternal e já tiveram exaustivas aulas com a tia Joaninha. Aquela Atena que nos ensinou incansavelmente a ligar uma letrinha com a outra pra formar sílabazinhas, uma palavrinha com a outra pra formar sentencinhas e assim por diante...ou quase. Enfim, ler é um processo que parece muito simples. Tão simples e monótono que chega até a nos entediar, não é? Pois é, talvez isso aconteça porque esqueceram de nos dizer que a leitura é parte integrante de um processo chamado APRENDIZADO que deve ser ligado a muitos outros processos de natureza até mais complexa pra gerar um fruto chamado CONHECIMENTO. O fruto do CONHECIMENTO é a SABEDORIA. Esse último fruto é o mais valioso da nossa hortinha. E pode demorar uma vida inteira pra amadurecer. Há casos e casos em que, infelizmente, por razões diversas, mas muito diversas mesmo, o coitado nem chega a ser cultivado.

O processo de aprendizagem, que envolve leitura, ao contrário do que possa parecer, é algo muito dinâmico. A leitura, nisso tudo, é só um meio de comunicação usado durante esse processo, mas é um meio que pode ser usado como uma ferramenta poderosíssima por seres como nós, que utilizam a linguagem falada e escrita como base de seu sistema de comunicação interpessoal, e não a telepatia, por exemplo. Precisamos aprender a ler e a escrever, se temos alguma intenção de externalizar nossas idéias e adquirir novas idéias.

A leitura, diferente das outras formas de comunicar informação existentes na nossa sociedade, requer da nossa mente um processo criativo constante que rode em paralelo com o processo da leitura. Ao ler, nós podemos, e até deveríamos, utilizar várias partes de nosso cérebro simultaneamente. Pois com o poder da nossa imaginação, somos capazes de dar vida ou no mínimo um colorido bem agradável a todas essas letrinhas e sinais que são captados pelos nossos olhos. A nossa mente é uma ferramenta fantástica. Principalmente quando aprendemos a usá-la e impedimos que sejamos usados por ela. Fazer isso é difícil, eu sei, ah se eu sei! =( Mas vamos tentar manter dentro de nós a Chama da Esperança acesa e a calma.

Se quisermos dar vida ou aplicar o tal colorido nessas informações, precisamos ser capazes de decodificar com precisão os dados adquiridos na leitura. Porque do contrário, a idéia transmitida pelo meio de comunicação vai ficar fragmentada, com falta de um sentido mais amplo ou até mesmo completamente sem sentido. Uma seção ou termo desconhecido em uma mensagem, vai definir um padrão de interferência nessa suposta mensagem e em todas as outras que venham a possuir o mesmo termo ou seção.

Um padrão de interferência gera um "ruído" no processo de criatividade. Consequentemente, não entenderemos uma enorme gama de mensagens de maneira cristalina. Se lermos um texto escrito numa língua desconhecida e que utiliza caracteres também desconhecidos, sentiremos muito bem na pele o exemplo extremo do que eu tô tentando passar com todo esse papo de interpretação. Isso tudo pode simplesmente desaparecer se você conseguir entender o que esse ruído significa. Ao fazer isso, a mensagem atual — e uma miríade de outras mensagens até a pouco tempo semi-alienígenas — vai se tornar acessível. O véu da ilusão e da confusão será suspenso em alguns milímetros, ou centímetros, ou sei lá o que, acho que varia. Mas enfim, isso não é incrível?! É quase como atualizar seu acervo de codecs de vídeo para rodar aquele filme que você insiste em ver, mas que se encontra em um formato de arquivo desconhecido. Irmão de espécie, caro ser com quem compartilho um complexo de DNA similar, o esforço empregado decodificando ruídos vale a pena! Compensa de verdade!

Gostaria muito que nós todos seguíssemos em frente de mãos dadas nessa empreitada de realização, de despertar para uma percepção mais vívida, nítida. Mas para isso, precisamos também ser humildes, o ego (Ah! O EGO!!) pode empacar, e muito, nossa evolução. Quantas e quantas vezes já nos retraímos diante do desconhecido por medo de parecer inferior? Quantos de nós é capaz de, enquanto pratica a leitura em meio a um grupo de outras pessoas, ter algo como um simples mini-dicionário de suporte em mãos...? Meus caros, vamos usar dicionários, vamos andar com dicionários debaixo do braço ao exemplo de cristãos que carregam suas Bíblias da mesma forma...!!

Parece exagerado não é mesmo?... Tá! Exagerei um pouco. Não precisa carregar debaixo do braço — a não ser que você faça questão —, mas quero chamar a atenção de vocês pra algo: se, quando saímos de casa, não pensamos nem duas vezes em levar conosco coisas tão supérfluas quanto um baton, um espelho, ou um adereço sem a mínima utilidade, por que deve ser considerado algo estranho e inadequado carregarmos conosco algo como um dicionário, que, ao meu ver, parece bem mais útil que um anel com uma caveira esculpida de forma estúpida ou algo do tipo.

Ah... Enfim... Quantas coisas deixaram e deixam de ser ditas porque nós mesmos insistimos em negligenciar ou extirpar de nosso ser a capacidade necessária para tal?

Ter conhecimento da nossa linguagem e do processo de aprendizagem a ela associado é algo extremamente vital para se fazer uso dos nossos métodos de aquisição de conhecimento atuais. O dia que inventarem o método do filme Matrix de aprendizagem, eu vou adorar. Todos vamos adorar! MAS AINDA NÃO INVENTARAM! Ninguém nasce sabendo as regras loucas que inventamos pra administrar e entender um pouquinho dessa realidade que insiste em escapar por entre nossos dedos.

Sabem, a princípio quis amaldiçoar o ser que criou a alcunha "Livro dos Burros" para coroar algo tão precioso pra essa espécie em desenvolvimento quanto um dicionário. Mas percebi que esse ser pode estar realmente certo. O limiar para as próximas de muitas etapas da nossa evolução está muito ligado a uma questão de assumirmos nossa ignorância diante de um universo que só não surpreende aqueles que insistem em se manter de olhos completamente fechados.

Samuel

sábado, 26 de março de 2011

E Continuamos a Ser



"Tenho tantas roupas
E gente passa frio.
Tenho tanta comida
E irmãos passam fome.
Tenho tanta saúde
E gente como eu adoece.
Vivo desejando requintes
Enquanto tantos desejam viver.
Olho, observo e critico o superficial
Tantos irmãos tentam sobreviver

Todo dia,
Toda hora, mais um pouco,
Quem sabe outrora?

O tempo passa e eu me pergunto:
Qual é a graça?
Desgraça.

Pensamos em coisas banais,
Fugimos da realidade,
Nos amedrontamos com a realidade.

Meu guarda-roupas está cheio
E tantos morrem de frio.
Meu bucho está cheio
E tantos morrem de fome
Tenho tanta saúde prá vender e vender
E irmãos morrendo doentes

Alimentar o egoísmo
Suprir a ilusão de um mundo perfeito
Travando-nos a capacidade de evoluir (que grande burrice)

E continuamos a ser...

A maior realidade é a pobreza,
A maior mentira é a riqueza!
Vendaram nossos olhos,
Sequestraram nossos filhos
E nossos sonhos,
Aprendemos a ser reis,
E uma única palavra: amém.
Conhecemos um só caminho,
O da auto destruição

E continuamos a ser..."

(O Casulo)